Um encontro entre Carolinas

Equipe - Publicado na categoria Entrevistas em 14/04/2023


Certo dia, na biblioteca da escola, Carolina encontra uma caixa repleta de livros que chama a sua atenção: a autora tem o mesmo nome que o seu! Instigada pela coincidência, ela inicia um diário no qual se dedica a investigar: quem foi Carolina Maria de Jesus?

A história dessa descoberta está no livro Procura-se Carolina (2022), escrito por Otávio Júnior e ilustrada por Isabela Santos, e busca incentivar os pequenos leitores a conhecerem o legado de uma das maiores escritoras do Brasil, Carolina Maria de Jesus (1914-1977).

Carolina Maria de Jesus viveu parte de sua vida na favela do Canindé, em São Paulo, catando papéis e outros materiais recicláveis para viver e sustentar seus três filhos. Apaixonada por leitura, nutria um grande sonho: publicar um livro.

Esse desejo se tornou realidade em 1960, quando foi lançado Quarto de despejo: diário de uma favelada, que se transformou em um grande sucesso, no qual ela narra a dura realidade na favela. A obra fez com que a autora fosse reconhecida com homenagens da Academia Paulista de Letras, da Academia de Letras da Faculdade de Direito de São Paulo e com um título honorífico da Orden Caballero del Tornillo, na Argentina.

Em março de 2023, Carolina Maria de Jesus teria completado 109 anos. Em homenagem à sua fascinante história, a equipe da Editora Yellowfante imaginou como seria o diálogo se as duas Carolinas, a real e a criada por Otávio Júnior, se encontrassem.

Convidamos você a conhecer como imaginamos essa conversa!

Carolina: Até encontrar os seus livros, eu não gostava de ler e nem pensava em escrever! Como foi você a minha inspiração, também quero saber: o que inspirou o seu início na escrita?

Carolina Maria de Jesus: Mesmo antes de começar a escrever, a literatura fazia parte da minha vida. Quando trabalhava como doméstica na casa de um famoso doutor, gostava mesmo era de aproveitar os intervalos para explorar a biblioteca da casa. Mas, lá em 1955, tive a vontade de compartilhar um pouco das histórias da favela do Canindé, onde eu morava. Então comecei a escrever meus diários!

Carolina: E como foi que seus diários se tornaram livros publicados em tantas línguas, lidos por milhares e milhares de pessoas?

Carolina Maria de Jesus: Certo dia, encontrei na favela do Canindé o jornalista Audálio Dantas, que estava trabalhando em uma reportagem e se interessou pelos meus diários. A partir desse encontro, algumas das minhas histórias foram publicadas em jornais e revistas, levando mais pessoas a se entusiasmarem com a minha escrita. Com esse espaço, pude finalmente publicar, em 1960, o Quarto de despejo: diário de uma favelada, meu primeiro livro!

Carolina: E escrever te fazia feliz?

Carolina Maria de Jesus: Escrever me dava a chance de falar sobre a minha realidade! E eu lutei por esse direito: escrevia em cadernos encontrados no lixão. Mesmo com todas as dificuldades, produzi de tudo: romances, poesias, contos e até música!

Carolina: E se tornou uma das maiores autoras do Brasil! Quantas histórias você publicou ao longo de toda essa trajetória?

Carolina Maria de Jesus: No ano seguinte à publicação de Quarto de despejo: diário de uma favelada, lancei o livro Casa de alvenaria: diário de uma ex-favelada, que dialogava com o trabalho anterior. Em 1963, foi a vez de publicar o meu primeiro romance, o Pedaços da fome. Mais tarde, transformei minhas memórias em um livro que foi publicado no Brasil como Diário de Bitita, em 1986.

Carolina: E quanta coisa você fez além de escrever! Sei que já foi catadora de papel, como o meu pai, e doméstica, como a minha mãe!

Carolina Maria de Jesus: Pois é, Carolina! Ao longo da minha vida eu fiz muitas coisas. Até em um circo eu trabalhei! Mas meu sonho sempre foi viver da minha arte: a escrita!

Carolina: E como você se sente hoje, sabendo que, ao escrever suas memórias, você se tornou uma grande autora, vendendo milhares e milhares de livros?

Carolina Maria de Jesus: É emocionante saber que, hoje, meus livros já foram traduzidos para mais de uma dezena de idiomas e podem ser lidos por tantas garotas inspiradoras como você, Carolina!

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