Dicionário das palavras perdidas revela o poder da palavra

Vica - Publicado na categoria Entrevistas em 20/09/2022


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Dicionário das palavras perdidas é uma história brilhantemente bem pesquisada, aprofundada e necessária sobre o poder das palavras, a relevância do movimento sufragista e a urgência da mulher em poder contar a própria história. Nesta narrativa, acompanhamos o processo de preparação do primeiro Dicionário Oxford de Língua Inglesa através da pequena Esme, uma menina órfã de mãe, criada pelo pai lexicógrafo.

À medida que cresce, ela percebe que termos relacionados às experiências de mulheres muitas vezes eram descartados por homens que, consciente ou inconscientemente, trabalhavam para moldar o dicionário com base em sua própria visão do mundo. Assim, Esme começa uma emocionante jornada de resgate às palavras para montar seu próprio dicionário.


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A inspiração da autora Pip Williams veio depois de ler sobre o processo de compilação do Dicionário Oxford de Língua Inglesa e perceber que todos os envolvidos na definição das palavras eram homens. Ao pesquisar mais sobre a representatividade das mulheres nesta dinâmica, encontrou uma curiosa história sobre uma palavra perdida e se fez duas perguntas: “As palavras significam coisas diferentes para homens e mulheres? Se sim, é possível que a gente tenha perdido algo no processo para defini-las?”.

Esta história encantou também a tradutora responsável, Lavínia Fávero, e eu aproveitei então para bater um papo com ela sobre essa obra incrível. Vem conferir!


O que mais chamou sua atenção no livro?
Como sou apaixonada por palavras, a primeira coisa que me encantou foi a força que as palavras têm na trama: são quase personagens. Também fiquei impressionada com a pesquisa histórica da autora e com o modo como ela articulou essas informações, reflexões sobre a natureza da linguagem, crítica social e a própria construção da trama, criando um livro de peso, mas que tem toda uma leveza e é delicioso de ler. Gostei muito do fato de ela ter escolhido uma perspectiva feminina sobre esse período histórico, algo que está muito em voga fazer. Só que Pip Williams fez isso de maneira muito séria e sincera: não é apenas um livro que embarca na onda comercial do feminismo, sem ter profundidade.


Qual o maior desafio na tradução desta obra?
Foram tantos os desafios na tradução dessa obra que fica difícil apontar qual foi o maior. Transmitir outra cultura, de outra época, seguindo a ordem alfabética da trama e a lógica de organização de verbetes em um dicionário, com certeza foi um desafio e tanto. Posso apontar o desafio mais divertido com facilidade: encontrar soluções para os palavrões que Esme, a personagem principal, registra em suas conversas com pessoas que não fazem parte do mundo acadêmico.


ASSISTA TAMBÉM: A atriz Reese Whiterspoon amou e recomeda a leitura de Dicionário das palavras perdidas.


Quais pontos em comum enxergou em relação às condições e à realidade da mulher brasileira na sociedade?
São muitos. Apesar de ter transcorrido quase um século e meio entre o início da trama e os nossos dias, as mulheres ainda não recebem o mesmo reconhecimento que os homens pelo seu trabalho nas mais variadas áreas, não apenas a acadêmica. Também gostaria de apontar a precariedade da situação das profissionais dos serviços domésticos, que não são valorizadas como deveriam pela tarefa importantíssima que desempenham. Muitas não têm direito a um feriado sequer, que dirá férias, décimo terceiro e outros direitos trabalhistas. São tratadas como pessoas de segunda classe por causa do tipo de trabalho que fazem e têm poucas (ou nenhuma) oportunidade de mobilidade social.


Para quem você recomendaria essa leitura?
Dicionário das palavras perdidas é um livro rico para quem se interessa por história e pelas discussões sobre feminino e condições socioeconômicas. Também é uma leitura deliciosa para quem gosta de um bom romance. Então, acho que é indicado para vários públicos, tanto para leitores mais jovens quanto os adultos. Mas recomendo fortemente que os homens leiam (risos), não apenas para terem um entendimento maior da condição feminina, mas como um passo para se libertarem das amarras do machismo, que é tóxico para eles também.


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Tags:  Pip Williams,  Dicionário das palavras perdidas,  Gutinha,  Editora Gutenberg


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