Bárbara Morais fala sobre a nova edição de "A ilha dos Dissidentes"

Gutinha - Publicado na categoria Entrevistas em 21/11/2022


Eu tô tão feliz e orgulhosa com essa edição especial de A Ilha dos Dissidentes, com nova capa da talentosíssima dupla Natália e Junior do @sapolendario e texto revisto pela autora Bárbara Morais.

A história se passa em um mundo distópico dividido em dois países: a União e o Império do Sol. Os dissidentes do Império atacaram a União com armas químicas e a União revidou com armas nucleares. Os componentes dessas armas, combinados a uma tempestade solar, causaram mutações genéticas nos humanos, surgindo, assim, os anômalos. Pandora é uma província exclusiva para eles, e lá existe uma escola onde crianças e adolescentes são treinados para desenvolver e controlar suas habilidades especiais.

Tive a oportunidade de conversar com a autora e o bate-papo foi uma verdadeira aula! Confiram:

Gutinha: Quais foram suas principais influências para criar essa distopia?

Bárbara: A ideia da história de Sybil surgiu em uma aula de Ciências Políticas da faculdade em que estávamos vendo definições de Estado. Com isso, comecei a refletir sobre as situações recentes de segregação e sobre como algumas situações extremas podem alterar esses conceitos. Em situações em que a discriminação é institucionalizada, o Estado continua legítimo? Se grande parte da população não tem voz, como é que pode um governo continuar? Daí adicionei superpoderes para deixar a discussão mais divertida!

Das influências diretas, acho que 1984, de George Orwell, é uma das mais óbvias, além de ser um dos meus livros favoritos, e Jogos Vorazes, que me mostrou que é possível abordar esses temas para um público jovem sem perder nada, com uma história envolvente e emocionante. Também cresci vendo animes e o desenho clássico dos X-Men, que sempre trazem pessoas com capacidades sobre-humanas usando suas habilidades, e tentei adicionar esse aspecto que amo em narrativas!

Gutinha: O que mudou da edição de 2013 para esta nova edição? O que mudou sobre você neste mesmo período?

Bárbara: As mudanças são pequenas, no fim das contas, mas fazem muita diferença. Em 2013, nós estávamos em outra posição quanto a pautas sociais, e a conversa em relação à raça e sexualidade apenas começava a ser feita de forma mais abrangente. Então mudamos algumas descrições que estavam perto do ideal, além de deixar um pouco mais explícita a sexualidade de alguns personagens! Aproveitamos essa revisão também para melhorar a fluidez do texto, mas em relação à história, está tudo igualzinho.

Quanto a mim… nossa, mais de dez anos separam a Bárbara que escreveu A Ilha dos Dissidentes e a de hoje. Eu acho que a principal mudança foi o amadurecimento enquanto escritora e, se eu fosse escrever essa história hoje, ela seria um pouquinho diferente. Também amadureci algumas ideias quanto à sociedade, mas optei por manter a história do jeito que ela foi escrita em respeito à pessoa que fui e às ideias que tinha, inclusive quanto ao final da trilogia. Hoje, acho que eu escreveria algo um pouco mais esperançoso, mas não vou falar muito mais para não dar spoiler para quem vai ler pela primeira vez!

Gutinha: Como a trilogia pode nos ajudar a entender as questões tão urgentes que estamos vivendo atualmente?

Bárbara: A jornada principal de Sybil envolve aprender a navegar em um mundo que é hostil a quem ela é, em uma situação política complexa que não apresenta nenhuma solução simples ou “culpados” claros – algo muito parecido com o que vivemos hoje. Acho que o segundo livro, especificamente, é um dos mais atuais por trabalhar muito a sensação de impotência que vem de perceber que não há nada que você possa fazer sozinho, que as coisas acontecem independentemente dos seus desejos. Apesar disso, a mensagem geral da trilogia é que, juntos, temos poder. Juntos, somos mais fortes. E cada um pode contribuir para fazer alguma diferença, por menor que seja sua ação.

Gutinha: O que podemos esperar sobre projetos futuros?

Bárbara: Eu, no momento, estou bem dedicada ao meu doutorado, com minha escrita em paralelo. Com todo o caos dos últimos anos e com os temas que abordo em minhas pesquisas, ando trabalhando em histórias que são o extremo oposto da trilogia Anômalos: fantasias escapistas, para dar um minutinho de descanso da realidade caótica para os leitores, em geral centradas em relacionamentos românticos. Mas não descarto voltar em breve para a ficção científica para adolescentes, tem um projetinho aqui com robôs gigantes que parece bom demais para ficar guardado…

Gutinha: Qual recado você deixa para quem quer começar a escrever?

Bárbara: O principal é: leia. Leia muito, leia coisas diversas. Tenha familiaridade com as palavras e conheça o gênero que você está escrevendo! A leitura é fundamental para a caixinha de ferramentas de um escritor e é melhor do que qualquer curso de escrita que se possa fazer. Além disso, é preciso paciência. Paciência para treinar e melhorar sua escrita, paciência para trabalhar o livro até ele ficar do jeito que você quer, paciência para decidir se vai publicar ou não. Com essas duas coisas, acho que o caminho vai se abrindo naturalmente!

Muito respeito pela trajetória da Bárbara!

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