"Uma prosa apaixonada", de Virginia Woolf: a escolha da capa

Tomaz Tadeu - Publicado na categoria Palavra da Editora em 19/05/2023


Entre todas as regalias que a Autêntica Editora, por meio de sua Diretora, Rejane Dias, me proporciona está a de escolher a imagem que vai ilustrar a capa. Já contei essa história num texto que escrevi para o blogue da Aut. Ali faço um minucioso relato de como escolhi as imagens de alguns dos livros da Virginia Woolf que traduzi.


Como disse ali, minha liberdade é grande, mas não é absoluta. Minhas escolhas passam, evidentemente, pelo crivo da Rejane e do Diogo Droschi, nosso diretor gráfico. Raramente divergimos. Lembro-me de um caso de divergência, no caso da capa de Flush, de Virginia Woolf, claro. É uma edição ilustrada pela artista britânica Katyuli Lloyd. Escolhi uma das imagens para a capa. Não era a que Diogo e Rejane haviam escolhido. Não vou contar a história de como convenci os dois de que a escolha deles tinha um probleminha porque envolve uma editora concorrente. Alguns anos depois descobri, via Internet, que uma edição britânica recente de Flush, ilustrada pelas mesmas imagens de Katyuli Lloyd, trazia na capa justamente a ilustração que havíamos escolhido para a edição da Autêntica. Bingo!


De capa em capa, chegamos à mais recente, a capa de Uma prosa apaixonada, livro que reúne ensaios de Virginia Woolf que tratam da relação entre a poesia e a prosa. Assim que começo uma nova tradução, começo a ficar atento para o carnaval de imagens que vemos diariamente na Internet simplesmente por estarmos navegando à toa. Numa dessas imersões, vi a capa de uma revista com uma imagem que imediatamente me chamou a atenção e que logo descobri ser a reprodução de uma pintura de Vanessa Bell, a irmã de Virginia Woolf. No mesmo instante, dei-me conta de que tínhamos a imagem da capa de Uma prosa apaixonada.


Mas para chegar à consecução de meu desejo era preciso passar por algumas etapas preliminares. Primeiro, que Rejane e Diogo estivessem de acordo. Estavam. Nesses casos, Diogo faz uns esboços para que possamos escolher o que vai ilustrar a capa definitiva. Foi o que ele fez. Depois, é preciso saber a quem pertence a pintura e detém os direitos de cópia. Essa tarefa é da alçada de Rafaela Lamas que com sua capacidade de negociação e convencimento se joga na pesquisa e nos trâmites consecutivos.


Às vezes, com sorte, esse processo é breve. Mas, em certos casos, leva bastante tempo, quer dizer, quando se chega a bom termo. Em caso contrário, voltamos à estaca zero. Nesse caso específico, a negociação foi longa, mas foi bem-sucedida. Tínhamos a capa! E aí entrou o Diogo para dar o retoque final, decisivo. (Às vezes, os detentores dos direitos de cópia fazem exigências bem difíceis de serem satisfeitas. No caso da ilustração da capa de Entre os atos que envolvia a imagem de um móbile de Calder, a instituição encarregada de negociar os respectivos direitos fez exigências bem difíceis de serem cumpridas, entre elas a de que nenhuma letra ou palavra podia ser sobreposta a elementos daquele lindo móbile. Vale a pena dar uma olhada lá para ver as manobras que Diogo teve que fazer para cumprir todos os requisitos.)


Finalmente, para encerrar essa pequena história da capa de Uma prosa apaixonada, devo dizer que me sinto feliz de juntar, embora tardiamente, as duas talentosas irmãs Stephen, Vanessa e Virginia. E, de certa forma, imitar o que Virginia e Leonard faziam na Hogarth Press, a editora do casal Woolf: as capas dos romances de Virginia eram, em geral, ilustradas por imagens criadas especialmente por Vanessa.

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