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Cientista político e autor de Os engenheiros do caos transforma pesquisa sobre enigmático estrategista no romance O mago do Kremlin, revolvendo as entranhas do poder russo contemporâneo
A Editora Vestígio, responsável pela publicação de Os engenheiros do caos, best-seller de Giuliano Da Empoli que se tornou referência nas análises sobre os impactos das fake news nas eleições mundiais, se prepara para lançar a nova obra do cientista político no Brasil. O mago do Kremlin, romance de estreia do autor, mescla contornos políticos e literários para contar a história de Vadim Baranov, personagem inspirado em Vladislav Surkov, superestrategista e homem-forte de Vladimir Putin durante 20 anos. O livro, que acaba de ser publicado na França, chega ao Brasil em outubro.
Vladislav Surkov, “o homem mais poderoso de quem nunca ouviu falar”, é peça-chave na construção do cenário da desinformação e das fake news russas. Arquiteto do sistema político em vigência na Rússia, o propagandista esteve por trás da anexação da Crimeia, em 2014, e, de acordo com documentos, pode ter tido influência nos movimentos separatistas que decretaram a independência de Donetsk e Lugansk relativamente a Kiev. É considerado ainda um dos arquitetos por trás da primeira fase dos conflitos entre Rússia e Ucrânia.
Surkov, conhecido também pelos sugestivos apelidos Rasputin de Putin, Marionetista do Kremlin e Maquiavel Russo, se apresentou como personagem enquanto Da Empoli trabalhava em Os engenheiros do caos. “Entre os rostos cinzentos da KGB e os oligarcas do Kremlin, surgiu essa figura excêntrica: ele havia estudado na Academia de Arte Dramática, mas na verdade se tornou o propagandista mais implacável e eficaz de Putin, usando técnicas do teatro de vanguarda, recriando uma espécie de grande performance na cena política de um país inteiro”, explicou o autor para o jornal italiano La Reppublica.
O livro, pensado originalmente como ensaio, se converteu em romance para que o autor pudesse preencher algumas lacunas. Ao transformar Vladislav Surkov em Vadim Baranov, o protagonista da obra, Da Empoli narra fatos históricos e políticos, ao mesmo tempo em que constrói diálogos que ninguém poderia ter ouvido, bem como o processo psicológico de Putin e sua relação com o poder. “Eu pesquisei este romance como se fosse um ensaio. A dimensão novelista tomou conta e eu a transformei em ficção”, revela o escritor.
TEATRO POLÍTICO PARA SATISFAZER O CZAR
No romance de da Empoli, Putin é tratado como Czar. O líder supremo é necessário para que a ordem seja restabelecida na Rússia por meio da “verticalidade do poder”. Entre os auxiliares do Czar, destaca-se a figura de Vadim Baranov. Tendo trabalhado como realizador e produtor de reality shows, tornou-se um dos principais assessores do presidente Putin, defendendo ideias como “verticalidade do poder” e “democracia soberana”.
A narrativa de Giuliano da Empoli nos conduz ao centro do poder russo, um local no qual cortesãos e oligarcas travam uma guerra constante. Nesse cenário, Baranov tornou-se o principal arquiteto do regime. Considerado “um poeta entre lobos”, ele defende que a disputa pelo poder é artística. Transforma um país inteiro num teatro político, onde a única realidade a ser alcançada é a realização dos desejos do Czar.
TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO E A ESTRATÉGIA DO FIO DE ARAME
Baranov percebe a importância das teorias da conspiração para a “verticalidade do poder”. Assim, trabalha para criar falsos partidos de oposição e promover uma guerra de informações assimétricas. A Rússia ganha, na visão dele, uma nova importância ao abalar as democracias ocidentais com esse tipo de extremismo. É a estratégia do fio de arame, que, de tanto torcer de um lado para outro, acaba sendo quebrado.
Isso foi o que a Rússia fez na Ucrânia a partir de 2004, com a Revolução Laranja. Incentivou lados extremos e jogou o país vizinho em um caos. O objetivo era demonstrar que é um erro confiar no Ocidente, pois, no primeiro sinal de problemas, o país é abandonado pelos europeus e norte-americanos. O mago do Kremlin é um livro moderno e visionário, com a graça atemporal de um clássico. Giuliano da Empoli utiliza a filosofia política de Maquiavel atravessada pelas brumas de John le Carré em um romance que gela o sangue.
SOBRE O AUTOR
Giuliano da Empoli é ensaísta e conselheiro político. Seu último livro, Os engenheiros do caos (Vestígio, 2019), dedicado aos novos mestres da propaganda política, foi traduzido para 12 línguas. No Brasil, o livro se tornou uma grande referência nos debates relacionados às fake news. O mago do Kremlin é seu primeiro romance.
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