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História de estuprador ganha dimensão humana em série documental (Folha de S. Paulo)

30/07/2020 — Luciana Coelho - Folha de S. Paulo

‘Eu Terei Sumido na Escuridão’ conta caso do Golden State Killer e de escritora obcecada por ele

Poucas coisas chamam a atenção na sociedade americana como sua fixação por assassinos em série. Não que esteja lá a origem desse crime; foi nos Estados Unidos, no entanto, que ele se notabilizou e ganhou frequência assustadora, alimentando-se do fascínio mórbido de quem acompanha tragédias reais como quem consome folhetins.

Essa obsessão, e algumas outras, estão no centro de “Eu Terei Sumido na Escuridão”, minissérie da HBO que se inspira no livro homônimo de Michelle McNamara, lançado no Brasil pela editora Vestígio há dois anos. Trata-se de um documentário em seis partes que costura o livro a imagens de arquivo, entrevistas e encenações do ocorrido com os próprios envolvidos.

Mais do que documentário criminal, como, por exemplo, “The Staircase”, “Eu Terei Sumido” ganha densidade ao desvelar não a história do criminoso em si, ou de suas vítimas, mas a compulsão da autora por investigar detalhes de crimes ocorridos três décadas antes e nunca resolvidos.

É pela vida de McNamara, uma investigadora amadora contumaz e escritora tão talentosa quanto assombrada, que a série põe em xeque mitos americanos sobre vizinhanças tranquilas, famílias felizes e a noção de segurança.

O caso em questão é o do Golden State Killer, epíteto que McNamara cunhou para substituir os outros dois pelos quais o criminoso era até então chamado, “Estuprador da Zona Leste”, por causa uma série de ao menos 50 estupros em Sacramento na segunda metade dos anos 1970, e “Perseguidor Noturno Original”, por 12 assassinatos —a maioria de casais— mais ao sul do estado nos cinco anos seguintes. “Golden State” é como a Califórnia é conhecida.

Quando McNamara, autora de um blog no qual escrevia sobre crimes reais, resolveu se dedicar a descobrir o assassino, no início dos anos 2000, a polícia já havia deixado o caso de lado. A escritora passaria a recolher uma profusão de pistas e a contatar, além de vítimas, outros investigadores amadores que, como ela, têm como hobby desvendar assassinatos.

O documentário é projeto de Liz Garbus —de “What Happened, Miss Simone”, o genial documentário sobre Nina Simone para a Netflix—, e é notável como ela conduz a história. Quem desconhece o matador ou nunca ouviu falar de McNamara vê a vida dos dois descarrilar conforme ela afunda em sua investigação.

O quadro vai se completando com outros personagens: o marido de McNamara, o comediante Patton Oswalt (de “Veep”, ou a voz do protagonista de “Ratatouille”), amoroso, porém nunca presente; os pais da escritora, cuja influência sobre ela —a caçula de seis irmãos em uma família de ascendência irlandesa— persiste; a amiga com qual divide as obsessões, os policiais frustrados pelo crime impune.

E, claro, há as vítimas. Garbus busca em seu sofrimento póstumo a mesma dimensão humana com que McNamara recheia seu livro, uma obra que passou semanas entre as mais vendidas nos Estados Unidos. A sutileza é usada também para tratar da escritora, uma introvertida jogada aos holofotes e consumida por um drama até recentemente invisível nos EUA, a dependência de remédios à base de opioides.

A princípio não parece tão boa a ideia de narrar trechos inteiros do livro com cenas representadas. O recurso, no entanto, se mostra poderoso para que a vida de McNamara possa avançar sobre a narrativa do documentário, engolindo o próprio assassino, da mesma forma que, no mundo real, ele engoliu a dela.

‘Eu Terei Sumido na Escuridão’ está na HBO Go; último episódio vai ao ar no domingo, às 23h

Luciana Coelho
Editora do Núcleo de Cidades, foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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