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Vivina de Assis Viana

Nasci em uma fazenda com nome de bicho (Jacaré, em Morro do Ferro, Minas) e não me lembro dos passarinhos de lá. Nem da mudança, dois anos depois, a família a cavalo, móveis, roupas e panelas em carros de boi.
A nova fazenda tinha nome de santo (Santa Luzia, em São Tiago, Minas também), e foi lá que cresci, aprendendo, com meu pai, minha mãe e meus irmãos, os nomes, as caras e os cantos de sei lá quantos passarinhos. Beija-flor, canarinho, pintassilgo, sabiá, saracura, chororó, joão-de-barro, sofrê, tiziu, andorinha, rolinha, bem-te-vi, birro, gaturamo, tico-tico, quantos?
Muitos anos depois, mais de quarenta, foi a vez de meu filho mais novo, Fabiano, que passava férias com os irmãos na casa da avó, aprender os nomes, as caras e os cantos de sei lá quantos passarinhos. Seu professor era o Prego, que também entendia de arapucas.
Um dia, depois de sumidos um bom tempo por currais e quintais, os dois apareceram com um tico-tico.
Terminadas as férias, o Prego ficou na fazenda cuidando das vacas, e nós voltamos pra São Paulo, onde moro e trabalho, desde que terminei o curso de Letras, na UFMG (Belo Horizonte). O tico-tico também veio.
Muitas vezes, vi o Fabiano conversando com ele. Falava, calava, esperava, falava de novo. Acho que o tico-tico respondia, mas não tenho certeza. E se eu chegasse muito perto e atrapalhasse?

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