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Gregório de Matos em suas diversas facetas

Obra atribuída ao Boca do Inferno é reinterpretada por João Adolfo Hansen e Marcello Moreira em coleção com cinco volumes de textos reunidos do Códice Asensio-Cunha

Desbocado, instigante, cômico, devastador, gênio: muito se atribui a Gregório de Matos Guerra (1663?–1699?) e muito se especula sobre ele, como sua personalidade e sua literatura, mas pouco se sabe com exatidão. Do próprio punho conhece-se apenas uma assinatura no livro de matrícula do curso de Direito Canônico na Universidade de Coimbra, em Portugal. Com uma acidez satírica descomunal, a extensa obra pela qual recebe crédito carrega uma genialidade tão arrebatadora que fez nascer uma lenda literária: Boca do Inferno. Este mito do barroco brasileiro recebeu, dos críticos e historiadores românticos do século XIX, roupagem de positivista, determinista, racista, neovanguardista e tropicalista, além de protonacionalista e obsceno. Para desmistificar essa interpretação e fazer uma análise profunda e moderna dos seus textos, dois dos maiores especialistas em literaturas luso-brasileiras, João Adolfo Hansen, da USP, e Marcello Moreira, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, reuniram o Códice Asensio-Cunha com os textos do autor (ou autores) na coleção Gregório de Matos: Poemas atribuídos – Códice Asensio-Cunha, lançamento da Autêntica Editora, com apoio da Capes-Proex. São cinco volumes – o quinto é voltado exclusivamente à análise da obra de Gregório, com comentários e elucidações pertinentes e necessárias – que totalizam mais de 2.400 páginas.

Os organizadores buscaram nessa coleção manter a estrutura pensada no século XVIII. Assim, os poemas contidos nos volumes são dispostos, pela ordem, em “louvores e vitupérios à nobreza”; “louvores e vitupérios aos agentes da Igreja Católica, clérigos, freiras”; e os “dedicados às mulheres, algumas de qualidade, outras, não”. Os quatro primeiros volumes trazem o conjunto de poemas coletados no Códice Asensio-Cunha que circulou em Salvador nas últimas décadas do século XVII e na primeira metade do XVIII sob o nome “Gregório de Matos e Guerra”, então a mais importante autoridade poética local. Naquele tempo, os poemas eram continuamente refeitos pelo agenciamento de audição, memorização e remanejamentos pela voz e pela escrita, sendo as versões desse códice apenas uma das muitas possibilidades textuais implícitas na “tradição”. Há variações textuais que incidem sobre uma única palavra – caso do primeiro verso do soneto “Um calção de pindoba a meia _porra_” e da variante “Um calção de pindoba a meia _zorra_” – ou sobre dezenas de versos, alterando-se radicalmente a configuração do texto. O que importa nesta edição é não contaminar “lições” de um manuscrito com “lições” de outro, com a finalidade de produzir um texto compósito não existente em nenhum manuscrito da “tradição”.

Na formação da figura de Gregório de Matos no imaginário social, foram de grande importância os textos datados do início do século XVIII, quando o letrado baiano Manuel Pereira Rabelo recolheu poemas que circulavam em Salvador oralmente e em folhas volantes, atribuindo-os a Gregório de Matos e Guerra, que lá vivera entre 1682 e 1694. Para prefaciar a compilação, escreveu um retrato ficcional do poeta.

Em 1840, o Cônego Januário da Cunha Barbosa publicou uma paráfrase dele como prefácio para dois poemas que atribuiu a Gregório e editou no número nove da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Esta paráfrase interpreta os lugares-comuns retóricos da ficção como fatos reais da vida empírica do homem Gregório, convertendo a verossimilhança da vida do personagem do texto do século XVIII na verdade da psicologia de um indivíduo romântico do século XIX. Varnhagen a retomou no Florilégio da Poesia Brazileira, em 1850, classificando o homem Gregório como doente, vadio e protonacionalista. Críticos posteriores deram novas interpretações, propondo os poemas como etapas para o Estado Nacional Brasileiro. “O poeta e a sua vida eram considerados eventos a serem recuperados por meio do agenciamento da pesquisa histórico-filológica e, porque testemunhos de um eu que neles se expressava com ‘sinceridade’, era inconcebível a instabilidade dos próprios textos poéticos, que se ofereciam ao leitor em forma plural e movente”, analisam Hansen e Moreira.

Na sátira atribuída ao Boca do Inferno, o caráter e as paixões do personagem satírico que vitupera vícios e viciosos são inventados retoricamente com categorias e preceitos éticos, jurídicos e teológico-políticos da “política católica” ibérica, sendo repetidos nos poemas como esquemas opositivos de ação verbal, como catolicismo X heresia e gentilidade. Constituindo-se como semelhança virtuosa das categorias positivas, o personagem satírico compõe os tipos viciosos como semelhanças malvadas das negativas, afirmando ser tipo virtuoso, por isso indignado contra a corrupção da sua Cidade segundo uma afetação retórica de indignação.

No último volume da coleção, Para que todos entendais. Poesia atribuída a Gregório de Matos e Guerra – Vol. 5, João Adolfo Hansen e Marcello Moreira fazem um extenso ensaio que analisa os códigos bibliográficos e linguísticos do corpus poético colonial que se atribui ao Boca do Inferno (1633/1636-1696), publicado nos manuscritos do Códice Asensio-Cunha. Os especialistas detalham não só as opções da edição, mas também as divergências com a crítica literária hoje predominante. “A revisão que fazemos visa constituir categorias e conceitos teóricos e procedimentos analíticos aptos para propor uma história da crítica textual no Brasil que evidencie a historicidade da prática filológica, especificando seus anacronismos reproduzidos nas histórias literárias brasileiras”, explicam os especialistas na apresentação desta coleção que consegue evidenciar as diferentes facetas do sublime e vulgar Gregório de Matos e Guerra.

Sobre os organizadores – João Adolfo Hansen é professor titular de literatura brasileira no Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Autor de estudos sobre as letras luso-brasileiras dos séculos XVI, XVII e XVIII e literaturas modernas. Marcello Moreira é professor titular de literatura brasileira da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade da UESB. Especialista em letras luso-brasileiras.

Ficha técnica do livros

Título: Gregório de Matos. Poemas atribuídos. Códice Asensio-Cunha – Vol. 1
Edição e estudo: João Adolfo Hansen e Marcello Moreira
Número de páginas: 544
Formato: 14 × 21 cm
Preço: R$ 47,00
ISBN: 978-85-8217-307-7

Título: *_Gregório de Matos. Poemas atribuídos. Códice Asensio-Cunha – Vol. 2_*
Edição e estudo: João Adolfo Hansen e Marcello Moreira
Número de páginas: 400
Formato: 14 × 21 cm
Preço: R$ 43,00
ISBN: 978-85-8217-305-3

Título: Gregório de Matos. Poemas atribuídos. Códice Asensio-Cunha – Vol. 3
Edição e estudo: João Adolfo Hansen e Marcello Moreira
Número de páginas: 496
Formato: 14 × 21 cm
Preço: R$ 45,00
ISBN: 978-85-8217-303-9

Título: Gregório de Matos. Poemas atribuídos. Códice Asensio-Cunha – Vol. 4
Edição e estudo: João Adolfo Hansen e Marcello Moreira
Número de páginas: 432
Formato: 14 × 21 cm
Preço: R$ 43,00
ISBN: 978-85-8217-301-5

Título: Para que todos entendais. Poesia atribuída a Gregório de Matos e Guerra. Letrados, manuscritura, retórica, autoria, obra e público na Bahia dos séculos XVII e XVIII – Vol. 5
Apresentação, edição, notas e glossário: João Adolfo Hansen e Marcello Moreira
Número de páginas: 592
Formato: 14 × 21 cm
Preço: R$ 49,00
ISBN: 978-85-8217-299-5

Para mais informações, entre em contato com nossa assessoria de comunicação pelo e-mail ou pelo telefone (31) 3465-4500 (ramal 207).

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