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Saiu na Mídia - Tigre Albino - "Ligia Cademartori conversa com professores"

17/12/2009 — Sérgio Capparelli, revista Tigre Albino

Por Sérgio Capparelli

As editoras buscam um nome para suas coleções de livros. Ora acertam, ora erram, nessa busca. Há coleções sem poesia. “Ensaios”, por exemplo. A não ser que o título da série diga algo mais, como “ensaios literários”, refinando o foco. E se a opção for “Conversas com o professor?” O livro “O professor e a literatura”, de Lígia Cademartori, joga luz sobre o título da série da Editora Autêntica. Basta ler a primeira página para se dar conta de que se trata realmente de uma conversa.

E conversa vai, conversa vem, o professor descobre uma conversa boa em um bom livro de troca de experiências.

Uma troca proveitosa, porque Lígia é experiente, tendo freqüentado boas salas de aula. E os professores que participam da conversa também vem de salas de aula boas, mesmo que essas salas estejam em lugares ou tempos diferentes.

Primeiro, como o próprio título diz, tem professor e tem literatura no livro. De um lado o professor e do outro a literatura? Aparentemente, não, pois se literatura parece um bicho de sete cabeças no início, aos poucos a conversa torna-se um papo-cabeça, dividido em três eixos: literatura infantil, literatura juvenil e aventuras poéticas: imagens, sons e sentidos. Cada uma das duas primeiras seções tem quatro textos, mais as referências, enquanto a última, quatro. Antecede o livro uma nota prévia: “o título deixa claro que a este livro interessa uma relação: aquela que o professor mantém com a literatura. É a partir do que pode aproximar alguém da obra literária que são apresentados e discutidos aspectos e elementos próprios da literatura infantil clássica e contemporânea; da literatura juvenil em suas dificuldades de definição; da formação dos leitores no âmbito escolar; das diferentes modalidades de poesia endereçada aos estudantes”.

Pronto, só esse parágrafo serviria para apresentar o livro. Estamos conversados e até mais. Não, não estamos conversados. Porque também essa resenha pretende ser uma conversa. Às vezes sem pé nem cabeça, mas conversa. Uma conversa com a revista O Tigre tentará mostrar que Lígia não é uma evangelizadora do mundo da leitura, para quem o importante é o livro-totem e não as relações do livro dentro da tribo.

Conversa vai, conversa vem

Não se engane, numa conversa franca, a autora não deixa nada a flutuar por sobre a cabeça dos professores. Em cada página parece dizer que o livro não é sagrado. Que se fosse sagrado, o leitor se intimidaria, com medo de tocá-lo. Que não adianta saracotear em volta do livro, como se ele fosse um totem. Como se o livro dissesse: “estou aqui para mostrar que sou muito mais do que de papel e tinta. Eu sou o mundo de autores e de leitores em suas relações com mundos reais e imaginários.

No primeiro texto, que o leitor é o grande personagem dessas histórias, na concepção dos livros ou fora deles, porque eles, crianças ou jovens, são, afinal de contas, quem vai ter esse livro nas mãos, para julgá-los, com uma sentença inapelável: gostei ou não gostei.

Na conversa, ela faz um estudo profundo na primeira parte do que é literatura infantil, clássica ou contemporânea. Ela reconta passagens difíceis desse tipo de estudo, sem ser condescendente, porém. E enquanto conversa, ela viaja e nos faz viajar através de livros, de escritores e de teoria literária. Muito séria, essa conversa da Lígia.

A relatividade dos conceitos

A autora também fala sobre a relatividade de conceitos como infância ou juventude, pois, segundo ela, essas crianças que não se regem por faixas etárias estendem os limites de seu mundo, passam a conhecer, inevitavelmente, dor e a alegria.

Daí a pergunta: mas, afinal, o que é um livro juvenil? O adjetivo “juvenil” da expressão livros juvenis tem as mesmas características, conteúdos, emulações, desejos, sangue e lágrimas dos jovens que vivem fora dos livros? Caso não tenha esse mesmo significado, as frases depreciativas, do tipo “os jovens de hoje não leem”, ou “a televisão e o computador mataram o desejo de leitura dos jovens” significam apenas expressões rancorosas de adultos?

Se os jovens não lessem, por que as editoras multiplicam a quantidade de títulos publicados a cada ano bem como o número de exemplares editados? E por que a média de leitura de livros por leitor/ano no Brasil aumentou de três para cinco em 2009?

É para discutir preocupações como essa que Lígia discute quem é realmente este leitor juvenil, em um tempo em que “o mundo é maior do que meu bairro”. Cita um depoimento de Luis Ruffato que aos 12 anos teve nas mãos o livro de um escritor ucraniano chamado Anatoly Kuznetzov e de que forma esse escritor, distante no tempo e no espaço de Cataguases, entrelaçou-se com o seu mundo. E quantos outros jovens de 12 anos não entraram no mundo da leitura pelas mãos de escritores que originalmente não os tinham em mente enquanto leitores. O que fazer desse universo (infantil?) cheios de personagens de Machado de Assis, de Tolstoi, de Dostoievski ou Calvino?”

Lígia tem razão, a partir dos 11 ou 12 o olhar se expande, numa luta entre o adulto convencional e o adulto rebelde, que alarga os limites da vida até solidões insuspeitas, que sangra, mas que tem também ensina. E o livro é uma das formas escolhidas pelo jovem para se situar no mundo. Sim, eles usam GPS de papel. E seguem no carro da vida, com viradas bruscas, atormentando a voz do GPS, que freneticamente se põe a dizer: “volte, logo que puder; volte, logo que puder; volte, logo que puder”, mas jovem prossegue – ou desliga o botão do navegador – pois quer seguir suas próprias coordenadas. Quer se perder, em suma, pois só consegue se encontrar quem se perdeu.

O GPS da poesia

”Na terceira seção de “O professor e a literatura”, Ligia trata da poesia brasileira que tem a criança como destinatária. Ela pega o professor pela mão, como se pega a mão de uma criança, e passeia por autores e poemas. Essa é pelo menos a primeira impressão. Pois a seguir, nos damos conta de que ela não pega o professor pela mão. Longe disso. Observando melhor, ela está de mãos dadas com professores e professoras, em um passeio pela paisagem poética brasileira.

Segundo ela, é importante distinguir o que realmente é uma boa poesia infantil. Ela não busca o conceito exato, mas concentra-se em sua dimensão qualitativa. Daí a necessidade de uma contextualização histórica, já que a poesia infantil é um gênero particularmente difícil:

“… os maiores equívocos de realização da poesia para criança ocorrem quando se diminui ou desconhece o leitor infantil. No primeiro caso, incide-se na poesia infantilizada, que subestima o leitor com versos que não permitem nenhuma aventura estimulante com a palavra. No outro extremo, está a poesia que não consegue prever o universo da criança e comete impropriedades de vocabulário, conceitos e sentimentos. Faz escolhas incompatíveis com as vivências limitadas daquele que pretende atingir. É o caso das composições poéticas sobre percepções e disposições emocionais próprias dos adulto, mas irreconhecíveis, ou sem apelo nenhum para uma criança, como, por exemplo, a nostalgia”.

A conversa de Lígia prossegue por páginas e páginas tentando por os pingos nos is. Tanto no capítulo que tem por título “O menino e o poeta”, quanto nas discussões sobre gênero, para finalmente discorrer sobre os jogos verbais, retomando Manoel Barros que entende a função da poesia como encantar palavras, fugindo, portanto, da rotina lingüística.

Para a autora, “a poesia se aproxima desses jogos verbais, quando brinca com as possibilidades combinatórias da língua”. A partir dessa idéia, ela busca imagens e ritmos nas cantigas de ninar, nos acalantos, nas parlendas e em outras formas de expressão tão bem explicados por Maria da Glória Bordini no primeiro texto desse número de Tigre 7.

Ela alerta que se trata de um jogo que muda de acordo com o crescimento da criança e que não se faz apenas de sons, mas também de imagens, quando a criança tem contato com o alfabeto e cada letra dança diante de seus olhos com uma expressão própria, ou, mais tarde, quando o espaço vazio ou cheio, ocupado por letras, incorpora um valor semântico.

Para mais informações, entre em contato com nossa assessoria de comunicação pelo e-mail ou pelo telefone (31) 3465-4500 (ramal 207).

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