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Saiu na mídia: Estado de Minas - "Minas reinventada"

20/05/2009 — Angela Faria, do jornal Estado de Minas - 03/01/2009

Confira a matéria da jornalista Angela Faria, publicada pelo jornal Estado de Minas, sobre o livro “A invenção das Minas Gerais – Empresas, descobrimentos e entradas nos sertões do ouro da América portuguesa”, de Francisco Eduardo de Andrade:

Livro do historiador Francisco Eduardo de Andrade oferece análise inovadora sobre a atuação dos bandeirantes

Em “A invenção das Minas Gerais”: (Autêntica/Editora PUC Minas), o historiador Francisco Eduardo de Andrade busca oferecer novo olhar sobre a formação do território mineiro, forjado a partir do sertão do ouro e dos diamantes desbravado no século 17. Bandeirantes destemidos empenhados em povoar a América Portuguesa, injustiçados paulistas em conflito com Lisboa, vítimas emboabas da empáfia dos sertanistas de São Paulo – como boa parte dos livros didáticos nos ensinou – dão lugar, nos estudos de Andrade, a uma outra história, distante da epopeia colonizadora marcada pelo heroísmo.

O autor, aliás, recusa-se a empregar a palavra bandeirante. Para ele, o termo está carregado de anacronismos, enredado nas teias da historiografia voltada para a exaltação de São Paulo como locomotiva do Brasil. Andrade prefere o conceito de bandeirista, mais coerente com a perspectiva que pretende oferecer. Seu livro traz a adaptação de tese de doutorado defendida na Universidade de São Paulo (USP) há seis anos.

“O mais importante é que as ações de descobrimentos de jazidas minerais não tiveram como objetivo precípuo, especialmente ao longo do século 18, desbravar um sertão desconhecido, estabelecendo concretamente a fronteira territorial da colonização agromineradora, mas instituir, legitimar aquele domínio exploratório. Pode-se dizer mais propriamente que, na prática, desde o final do século 17, a fronteira de ocupação efetiva ou mesmo de povoamento foi, muitas vezes, preexistente ao descobrimento de metais preciosos. Desse ponto de vista, a constituição do lugar (ou da ordem) colonial das Minas Gerais foi resultante de um embate entre práticas sociais e políticas dos agentes no espaço de fronteiras. Isso porque a colonização das empresas de descobrimentos contou com certo abrandamento do sertão, e com as possibilidades oferecidas nas fronteiras dos lugares, levado a efeito originalmente por índios submetidos, ou aldeados segundo o regime da Igreja e da Coroa, entrantes pobres e negros escravos”, ressalta o autor.

ÍNDIOS E ESCRAVOS

Francisco Andrade esclarece: ao chamar a atenção para descobridores, não se refere a bandeiristas de prestígio, guias, soldados ou expedicionários. Mas para aqueles que, em suas entradas pelos sertões, “sem o alarde da fama ou do rito estatal, ou ainda de forma clandestina, efetivamente ocuparam e exploraram aqueles espaços, conduzindo aos primeiros passos na direção de seu povoamento e da sua colonização”. Ao lado dos poderosos, dos paulistas e dos senhores das Minas estavam os entrantes pobres e escravos jornaleiros, destaca o pesquisador.

O povoamento foi consequência – mas não a motivação básica dos bandeiristas, interessados em apresar índios e buscar riquezas. O autor de A invenção das Minas Gerais destaca que não apenas os ganhos e a fortuna estimulavam os paulistas, mas também a obtenção de reconhecimento por parte da corte e de cargos de destaque no Estado português. Aspectos simbólicos e políticos da entrada descobridora são tão importantes quanto o econômico, ressalta ele.

O primeiro capítulo – “Poder, representação, discurso: Feitos de descobrimentos” – nos explica os meandros do imaginário do poder na monarquia portuguesa nos séculos 16 a 18. Interessante constatar que não bastava ao cidadão achar a riqueza para ser considerado, oficialmente, o descobridor dela – com direitos e deveres decorrentes disso. Acompanhamos o drama de Belchior Dias, que palmilhou o Vale do São Francisco, encontrou minas, foi a Lisboa reivindicar a posse. Sem obter a proteção de nobre influente para ser reconhecido como descobridor, não obteve os alvarás régios das mercês, recusou-se a levar as autoridades às minas e acabou preso. Morreu sem ensinar como chegar até elas.

Resumindo: quem não mantinha as relações certas não tinha crédito para se tornar descobridor. Pobres livres e escravos, informa Andrade, jamais puderam chefiar uma empresa de descobrimento, embora tenham encontrado as cobiçadas lavras. Acabaram apontados como extraviadores do ouro e de pedras preciosas, tachados de criminosos e vadios.

O capítulo 2 se volta para Fernão Dias Pais, figura emblemática na instituição das Minas Gerais do ouro. Francisco Andrade chama a atenção para o peso simbólico da empresa do velho sertanista nas últimas décadas do século 17 em sua busca por esmeraldas. A ação de Dias – e o simbolismo associado a ela – ecoaria nos posteriores descobrimentos de ouro por parte dos bandeiristas.

O capítulo “Razão de Estado e suas mercês” esmiúça o “jogo socialmente reconhecido de prestação mútua de favores” estabelecido pela monarquia portuguesa para obter o apoio dos súditos, mecanismo fundamental para o controle estatal sobre as riquezas na América Portuguesa.

Na segunda parte de seu livro, Francisco Andrade se volta para a trajetória de três descobridores: Garcia Rodrigues Pais, Manuel de Borba Gato e Salvador Fernandes Furtado. “Nada mais distante da transmissão dos relatos de descobrimentos de metais ou de pedras preciosas na América Portuguesa do que a imagem de um explorador agonizante, entregando a um amigo, nos seus últimos suspiros, um roteiro ou um mapa de mina descoberta”, adverte o historiador. De acordo com ele, a imagem de herói “não se aplica aos (supostos) descobridores do ouro, prata, diamantes e esmeraldas”.

MUDANÇA

Andrade explica que o século 18 trouxe mudanças radicais para a capitania. Se antes dera suporte político e logístico aos bandeiristas – marcando a presença do Estado na região ainda no século 17 (não a partir da chegada de governadores e ouvidores) -, a coroa passou a prescindir deles nos anos 1700. “Na década de 1730, o negócio da exploração mineral sobrepõe-se claramente ao empenho descobridor”, ressalta o pesquisador. Nessa época, o “Estado-governo reformador pretendeu se apresentar como o verdadeiro agente da riqueza econômica”, lembra o historiador.

A ironia maior dessa história, destaca o autor, é que, enquanto Fernão Dias tombou com suas pedras verdes de pouco valor, mas compôs papel proeminente na memória e na literatura dos descobrimentos de minas, “muitos ‘criminosos’ mestiços ou escravos, que promoveram faisqueiras de ouro ou garimpos de diamantes em sertões remotos, não tiveram a visibilidade política e da virtude daquele”.

A invenção das Minas Gerais, certamente, não se destina a ser best-seller, como publicações recentes do gênero que oferecem momentos de entretenimento educativo. Sua leitura exige concentração. É livro para estudar, proporciona uma viagem pelo intrincado universo político-econômico-religioso das Minas seiscentistas e setecentistas. O autor busca nos ajudar a compreender as relações coroa-colônia, mas sem perder o foco no complexo jogo que envolveu sertanistas, emboabas e representantes do rei. Não há romantização da saga bandeirante, muito menos bravata antipaulista.

A historiadora Adriana Romeiro, autora de estudos esclarecedores sobre a Guerra dos Emboabas, saúda o trabalho de Francisco Andrade como nova fase nos estudos do bandeirismo, com abordagens originais, distantes do polêmico debate que despertou amor e ódio entre estudiosos no início do século 20. “De suas análises, o velho bandeirante paulista não emerge mais como o protagonista solitário de uma epopeia colonial, mas como a confluência de saberes, práticas e experiências em que se entrecruzam a cultura, a política, o social, num cenário onde nada é gratuito”, ressalta Adriana.

COLEÇÃO

O estudo de Francisco Eduardo de Andrade integra a coleção Historiografia de Minas Gerais (Autêntica/Editora PUC Minas), dividida em duas séries: Universidade, com trabalhos acadêmicos voltados para a ampliação dos estudos históricos mineiros, e Alfarrábios, cujos títulos estavam esgotados. História de Nossa Senhora em Minas Gerais (1956), de Augusto de Lima Júnior ganhou edição comentada, coordenada por Francisco de Andrade e Mariza Guerra de Andrade.

Para mais informações, entre em contato com nossa assessoria de comunicação pelo e-mail ou pelo telefone (31) 3465-4500 (ramal 207).

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