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Nos 50 anos de sua morte, Yukio Mishima tem inéditos lançados e passagem pelo Brasil esmiuçada (O Globo)

17/06/2020 — Bolívar Torres - O Globo

Ensaio biográfico mostra que o Rio marcou a vida de um dos mais importantes escritores japoneses do século XX

RIO — Ao avistar pela primeira vez o Rio de Janeiro antes da aterrissagem, Yukio Mishima bradou o nome da cidade e teve certeza de que não se importaria de morrer se o avião caísse em um lugar tão bonito. A passagem do escritor japonês pelo Brasil, em 1952, é pouco conhecida do público, mesmo tendo uma forte influência na sua vida. No ano em que seu performático suicídio completa 50 anos, o escritor tem novos títulos lançados por aqui, incluindo o ensaio “Quem são Mishimas?”, que detalha sua visita às terras cariocas que ele tanto amou — e onde, segundo testemunhas, amou também.

Escrito pelo pesquisador Victor Kinjo, o livro faz parte de um box de dois volumes recém-lançado pela Autêntica. O conto “Patriotismo”, publicado em 1960 no Japão, complementa a caixa. As novidades continuam no segundo semestre, quando a editora Estação Liberdade lançará “Vida à venda”, só recentemente descoberto no Ocidente.

— Estamos vendo uma retomada da obra de Mishima — acredita Kinjo, especialista da obra do autor e pós-doutorando no Instituto de Estudos Avançados da USP. — Ele teve vários livros traduzidos nos anos 1980, mas a partir dos anos 1990 o interesse tinha diminuído. É curioso porque, para muitos estudiosos, o Brasil foi para ele o que a Argélia foi para André Gide. Um lugar onde as regras são suspensas e é possível explorar melhor a sua homossexualidade.

Nascido em Tóquio em 1925, como Kimitake Hiraoka, o escritor criou seu nome artístico a partir da junção de duas palavras: yukio (neve) e Mishima (nome de uma cidade próxima ao Monte Fuji). Quando chegou ao Rio, aos 27 anos, já era um autor promissor, conhecido pela obra de estreia “Confissões de uma máscara”, sobre a descoberta de desejos homoeróticos. Nos nove dias que ficou na cidade, levava rapazes para seu quarto de hotel quase todas as tardes. Alguns especialistas deduziram que ele teria tido sua primeira relação homossexual no país, mas nunca foi confirmado.

A passagem também ficou marcada pela descoberta do carnaval. Segundo Kinjo, a festa se tornou uma metáfora do ethos do autor, que nos anos seguintes se desdobrou em múltiplos: halterofilista, guerreiro, lutador de kendô e celebridade literária três vezes indicada ao Nobel. Performático, midiatizou a própria cerimônia de haraquiri em 1970.

— O Rio, pela relação com a máscara e com o carnaval, e a Grécia, pela relação com o corpo, lhe despertaram a consciência de que era possível criar imagens contraditórias de si —conta Kinjo. — E isso não apenas através da sua literatura, mas de fotografias e do domínio da arte da performance.

As contradições de Mishima também estão no centro de “Patriotismo”, conto de 50 páginas que compõe o box. Inspirado em um incidente real, o texto narra o suicídio — e a última noite de amor — de um tenente e de sua esposa em meio a uma frustrada tentativa de golpe dentro do exército japonês. A obra não apenas antecipa os próprios impulsos suicidas do autor como seu estranho e paradoxal ultranacionalismo, que pretendia resgatar os valores tradicionais do Japão, quando o país se abria para a cultura Ocidental. Os temas dominantes de sua obra aparecem resumidos: transcendência, masoquismo, narcisismo e “morte na beleza”.

— A obsessão do corpo perfeito que ele cultivava é também um discurso patriótico, do corpo japonês que foi castrado pela guerra — diz Kinjo. —É uma espécie de patriotismo transviado.

O suicídio volta à pauta em “Vida à venda”, romance publicado em 1968 no Japão e um best-seller surpresa quando relançado em 2015. Ele será publicado pela primeira vez no Brasil pela Estação Liberdade, que em 2019 trouxe à tona as correspondências de Mishima com Yasunari Kawabata, vencedor do Nobel e outro grande da literatura japonesa.

A premissa é um tanto bizarra. Após uma tentativa mal-sucedida de suicídio, o protagonista anuncia nos classificados: “Vendo minha vida. Use-a como quiser.” A partir daí, tem que lidar com as figuras que respondem e seus caprichos absurdos.

— É uma ficção surreal de humor ácido, crítica à sociedade japonesa daquele tempo. Ao mesmo tempo, é divertida e sagaz — diz Letícia Howes, supervisora editorial da Estação Liberdade.

A editora investiu contratando mais seis títulos de sua autoria, que devem sair nos próximos meses: a tetralogia “O mar da fertilidade”, o livro de ensaios “Sol e aço” e o romance “O marinheiro que perdeu as graças do mar”.

— Alguns fatores contribuem para um ressurgimento de interesse pelo Mishima — diz Angel Bojadsen, diretor editorial. — A efeméride dos 50 anos conta, e o valor intrínseco da obra. Nesses tempos de tantas idiossincrasias políticas rompendo os consensos pós-Segunda Guerra, tem seu peso a “ficcionalização” da vida pessoal de Mishima.

Para mais informações, entre em contato com nossa assessoria de comunicação pelo e-mail ou pelo telefone (31) 3465-4500 (ramal 207).

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