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Escrito há 90 anos por Freud, 'O mal-estar na cultura' continua relevante (O Globo)

30/05/2020 — Fabiane Secches - Especial para O Globo*

Texto mais comentado e traduzido do pai da psicanálise ganha nova edição, que inclui cartas trocadas com Albert Einstein e análises de pensadores contemporâneos

É de se admirar que um texto escrito há 90 anos continue sendo tão relevante: “O mal-estar na cultura” (no original em alemão, “Das unbehagen in der kultur”) foi publicado pela primeira vez em 1930, já na fase final da trajetória de seu autor, Sigmund Freud (1856-1939), e continua ganhando novas traduções e edições. É o caso da coleção Obras Incompletas de Sigmund Freud, da editora Autêntica, que acaba de lançar “Cultura, sociedade, religião: ‘O mal-estar na cultura’ e outros escritos”.

O volume traz uma nova versão do ensaio, com tradução de Maria Rita Salzano Moraes, acompanhado de outros textos do pai da psicanálise, cartas que Freud trocou com Albert Einstein e comentários de pensadores contemporâneos, como o filósofo Vladimir Safatle. Na apresentação, os organizadores Gilson Iannini e Pedro Heliodoro Tavares afirmam que não é possível compreender nosso tempo sem esse texto, pois os séculos XX e XXI “seriam, simplesmente, ilegíveis”.

O texto mais comentado e mais traduzido de Freud é, para ambos, “um daqueles poucos livros que já nasceram clássicos”. Argumentam que, não por acaso, a categoria de “mal-estar” difundiu-se na cultura, povoando estantes com títulos reais como “Mal-estar na modernidade”, “na pós-modernidade’, “na democracia”’, “na estética”, “no trabalho”, “na educação”, “na maternidade” — para não falar do mal-estar epidêmico de 2020.

Quanto à importância de ler Freud hoje, vale retomar aqui uma citação da francesa Elizabeth Roudinesco, psicanalista e historiadora da psicanálise: “Jamais me pergunto se, atualmente, as ideias de Freud são pertinentes ou não. Freud é um dos maiores pensadores da História da Humanidade e teve sua obra traduzida em 50 idiomas. Todo historiador se debruça sobre a questão ‘como ler Freud hoje’. E não ‘ele é pertinente?’.”

Pode-se dizer que a psicanálise revolucionou as crenças científicas do século XX ao estabelecer um entendimento singular da subjetividade. Grosso modo, alguns dos principais conceitos que a fundamentam são a noção de aparelho psíquico, com destaque para a ideia freudiana de inconsciente, e a teoria das pulsões.

Em “O mal-estar na cultura”, o autor investiga justamente o embate entre as pulsões e a civilização, já que, para aderir à última, é preciso que cada um reprima suas pulsões, abdicando de certa liberdade — e de certa agressividade. “A vida humana em comum só se tornará possível caso se encontre reunida uma maioria que seja mais forte do que cada um dos indivíduos e que se mantenha unida contra cada um dos indivíduos. (…) Essa substituição do poder do indivíduo pelo da comunidade é o passo cultural decisivo”, escreve o autor.

Freud examina os efeitos desse pacto e das renúncias implícitas a ele para a vida psíquica e para a vida coletiva, enquanto examina também a própria cultura — termo que podemos adotar também como sinônimo de civilização (usado por algumas traduções do título em português).

Aprofundando um topos central do seu pensamento, Freud diz que a vida social se funda numa espécie de renúncia, ou, mais precisamente, no impedimento da satisfação pulsional. “O saldo subjetivo dessa renúncia é a inescapável sensação de mal-estar”, escrevem Iannini e Tavares.

Infelizmente, o mal-estar do período entreguerras e da ascensão nazifascista, quando Freud escreveu esse texto, não se dissolveu com o tempo. Ao contrário, foi escalonado.

Por essa razão, a leitura do ensaio e o debate que ele propõe soam atualíssimos. Noventa anos depois de publicado, ele continua oferecendo um conjunto de ferramentas para entender nosso tempo. Como dizem os organizadores, “não lemos ‘O mal-estar na cultura’; é ele que nos lê”.

  • Fabiane Secches é psicanalista e crítica literária, doutoranda em Teoria Literária e Literatura Comparada na USP

Para mais informações, entre em contato com nossa assessoria de comunicação pelo e-mail ou pelo telefone (31) 3465-4500 (ramal 207).

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