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Confira aqui entrevista com Josep M. Esquirol, autor de O respeito ou o olhar atento - Uma ética para a era da ciência e da tecnologia

09/07/2008 — Assessoria de Comunicação

Autor do livro El respeto o la mirada atenta, o filósofo catalão Josep M. Esquirol, concedeu uma entrevista ao Autenticando para falar sobre como nossa sociedade, marcada pelo consumismo, pela busca da satisfação imediata, pela fragilidade dos laços humanos e pela velocidade da tecnologia, requer menos indiferença e mais atenção às pessoas e às coisas. Um olhar atento é o que ele propõe, para que possamos existir em um mundo mais solidário e pautado pelo respeito. Como a escola pode contribuir para isso? Como nós, seres humanos, podemos dotar nosso olhar de atenção? Confira a entrevista e conheça um pouco mais do livro O respeito ou o olhar atento – Uma ética para a era da ciência e da tecnologia, lançado pela Autêntica, com tradução de Cristina Antunes.

Quais os principais desafios que nós, seres humanos, temos de enfrentar para impedir que esta era em que vivemos, marcada pelo individualismo, pela pressa e pela competitividade, nos torne pessoas menos atentas ao próximo e à sociedade em que estamos inseridos?

Redescobrir o valor da solidariedade, da justiça e do amor continua sendo o mais relevante para reverter os excessos individualistas de nossos dias. Não me parece que aqui teremos de inventar nada: somente – e não é pouco – darmos conta de que o que mais tem sentido na vida não é o consumo nem o poder, e sim os laços de estimação, de amizade e de respeito que se dão entre as pessoas.

Se tivesse de destacar uma das atitudes que proliferam na atualidade e que me parece mais inquietante para progredirmos para uma sociedade mais solidária, destacaria a indiferença. Trata-se de uma deficiência de caráter moral. A pessoa indiferente é incapaz de perceber o que uma determinada situação está pedindo a ela. Nem sua sensibilidade nem seu entendimento sabem escutar as demandas da realidade, o compromisso que uma situação social requer, a ajuda ou a companhia de que outra pessoa necessita.

Como se dá a articulação entre o respeito e a atenção? Qual a importância do olhar atento para uma sociedade mais harmoniosa e justa? Como definiria esse olhar?

Atenção e respeito estão estreitamente vinculados. Prestar atenção não somente significa aguçar a percepção e nossa capacidade cognitiva, supõe também um despertar e uma vigília de nosso sentido moral. A idéia é que se prestarmos atenção aos demais e às coisas que nos rodeiam, acabaremos tendo uma atitude respeitosa.

Essa estreita relação se manifesta também na questão etimológica, pois a palavra latina de que procede o termo “respeito” significa precisamente olhar duas vezes, de modo que a essência do respeito é o olhar atento.

Realmente, sabemos que quando uma pessoa presta maior atenção aos demais e às coisas, costuma comportar-se também de maneira mais respeitosa.

Quando temos maior respeito, temos menor proporção de conflitos e de violência social. Um dos caminhos mais eficazes para trabalhar a favor de uma sociedade mais madura e mais humana consiste em elevar o sentido moral das pessoas.

Qual o papel da Educação e das escolas no cultivo dessa prática?

Creio que às vezes incorrem no erro de acreditar que, para enfrentar os problemas sociais de incivilidade que vão aparecendo, o que têm de fazer é acrescentar mais conteúdos, mais valores aos currículos escolares. Em geral, a sociedade contemporânea peca pelo excesso, e uma amostra disso é a acumulação de conteúdos.

Todavia, têm de dar-se conta de que a autêntica formação moral não se consegue com base em discursos sobre valores. Trata-se de algo mais sutil e de uma realidade menos artificial. Quando um aluno tem a sorte de ser acompanhado por um professor atento e respeitoso, muito provavelmente irá se apropriar também dessa atitude.

O adequado seria menos discursos teóricos e acumulação de livros e mais professores e mestres que encarnem em sua própria pessoa essa atitude respeitosa e atenta. Não há melhor garantia que essa para a educação dos jovens.

A sociedade atual é marcada pela descartabilidade das coisas, pela volatilidade das relações, pela busca do prazer imediato e, principalmente, pela velocidade. Como conseguir dotar o olhar de atenção quando todos estão mais preocupados em olhar os ponteiros do relógio e passar superficialmente pelas situações e pelas pessoas, já que parece não haver tempo para parar e olhar?

Vivemos, de fato, em uma sociedade marcada pelo efêmero e pelo volátil, características essas específicas do consumismo. Tudo que acaba por girar na órbita do consumo se converte em produto efêmero com data de validade muito curta. Por outro lado, o desenvolvimento da técnica tem nos levado à era da velocidade e da aceleração, sobretudo nos contextos urbanos. A efemeridade do consumismo se soma à velocidade tecnológica, e o resultado é uma situação em que as pessoas tendem a se mover superficialmente, orientadas pelo imediatismo.

O mais profundo de cada ser humano requer, para se satisfazer, não um produto ou uma coisa, e sim um tempo distinto ao do relógio. Trata-se do tempo do “dom”, de que dizem Heidegger e Derrida.

O tempo que cada um pode dar a si mesmo e aos demais não deve ser um tempo quantitativo, e sim qualitativo. A atenção e o respeito são fruto desse tipo de tempo. O tempo que dedicamos ao outro é um tempo que ganhamos. Não tenho nenhuma dúvida de que para prestar atenção ao mundo há que se valer desse tipo de tempo.

Como define a importância de seu livro para uma sociedade mais humana? O que o leitor pode esperar dele?

Não me dirijo a um público especializado nem proponho uma nova teoria ética. Não pretendo, ainda, apresentar novas etiquetas para vender um produto. Creio que o mais importante já faz parte da vida, e, por isso, o que me proponho é colocar em relevo uma dimensão da vida moral das pessoas; dimensão essa que tem de se relacionar à nossa capacidade de prestar atenção de forma que o cognitivo e o ético se conjuguem com perfeição.

Olhar é fácil, mas olhar atentamente é bem menos. Se a leitura de meu livro contribuir, ainda que somente um pouco, para promover essa atitude na vida privada das pessoas, assim como em seus distintos âmbitos sociais e profissionais, mais especialmente no educativo, devo dizer que meu esforço estaria recompensado.

Josep M. Esquirol é professor de Filosofia da Universidade de Barcelona e diretor da Fundação Epson e do grupo de investigação Ética de la Ciencia y la Tecnología. Autor de numerosos estudos sobre filósofos e temas contemporâneos, tanto em seu último livro publicado (Uno mismo y los otros, 2005) como nesse sobre o respeito ou o olhar atento, revela seu atual interesse por enraizar a reflexão filosófica nas vivências e nas atitudes mais fundamentais da pessoa humana.

Para mais informações, entre em contato com nossa assessoria de comunicação pelo e-mail ou pelo telefone (31) 3465-4500 (ramal 207).

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