Origem do romance Mulheres Esmeraldas: A febre e o delírio da garimpagem

Domingos Pellegrini - Publicado na categoria Nossos Autores em 21/08/2018


foto de Sebastião Salgado

As fotos de Sebastião Salgado em Serra Pelada se tornaram a cara mais conhecida da febre de garimpagem que grassou nos anos 1980, levando dezenas de milhares de brasileiros a se aventurar na Amazônia.

Fazendo em 1985 reportagem para a revista Playboy, Domingos Pellegrini começou ali a criar o romance Mulheres Esmeraldas, vendo a febre e o delírio da garimpagem:

- Os homens, enfebrecidos pela gana de enriquecer, trabalhavam doidamente, do primeiro sol à primeira estrela, às vezes passando o dia todo sem comer ou almoçando linguiça com pão para não interromper a lida, deitando extenuados para no dia seguinte continuar a trabalhar alucinadamente. Essa febre levava ao delírio da vitória, quando, de repente “bamburrados” ao achar um veio de ouro, lançavam-se ao desvario de compras e gastos. Alguns fechavam casas de mulheres para noitada com amigos, outros compravam tevês e vitrolas para levar aos garimpos que nem tinham energia elétrica…

Em Alta Floresta, no alto de Mato Grosso, em 1985 o nome da Boate Saramandioca parodiava o título da novela Saramandaia de Dias Gomes, de 1976. Pellegrini conta:

- Como repórter da Playboy, embora o tema da reportagem fosse outro, acharam-se no dever de me mostrar o que de mais erótico havia por lá, essa boate em forma de 8. Uma parte do 8 era um imenso salão redondo com pista de dança rodeada de centenas de mesas, ligada à outra parte que eram dezenas de quartos dando para um pátio redondo. Quando às 23 horas passei pela portaria que era na cintura do 8, havia um chaveiro de parede vazio, que depois se encheu de chaves dos quartos, de onde as mulheres saíram, cada uma trazendo um homem, para ver o show do Valdick Soriano à meia-noite.

Ali Pellegrini veria a mais vívida demonstração de delírio garimpeiro:

- Um garimpeiro, ainda de sandálias e calções embarreados, erguia a mão pedindo cerveja ao garçom, que trazia onze latas. Dez eram para ele lançar a outros garimpeiros em outras mesas. Fui contando. Ao final do show, ele tinha pedido 10 latas, portanto 110, e tirou de uma bolsa a tiracolo maço de dinheiro para pagar, entregando ao garçom para contar as notas. Como o preço de cada lata era várias vezes superior ao preço do varejo na cidade, ele pagou uma pequena fortuna para exibir sua delirante e fugaz vitória no garimpo. Na cidade contavam de garimpeiros que, ricos na sexta-feira, chegavam à segunda-feira sem ter como pagar o café da manhã… No hotel, comentei o absurdo daqueles delírios, e alguém falou que “garimpo com a cabeça no lugar, só garimpo de mulher”, contando que algumas mulheres tocavam um garimpo ali perto da cidade.

Aí começou a nascer o romance Mulheres Esmeraldas.

***

Mulheres Esmeraldas é o novo livro de Domingos Pellegrini e foi publicado pelo selo Gutenberg.

Tags:  mulheres esmeraldas,  garimpo,  domingo pellegrini


Comentários