Dia D: 3 filmes descobrir (ou redescobrir)

Arnaud Vin - Publicado na categoria Palavra da Editora em 06/06/2020


Em 6 de junho de 1944, as tropas aliadas desembarcaram na Normandia, dando início a uma sangrenta batalha que culminou com a libertação da França do jugo nazista.

Esta data, que entrou para a história como o Dia D, foi uma das mais importantes da história do século XX e inspirou centenas de livros e filmes. Confira, a seguir, 3 indicações desses filmes, selecionadas pelo editor responsável dos selos Vestígio e Nemo, Arnaud Vin.

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5 de junho de 1944, 21h15

Rádio Londres, programa em língua francesa da BBC:

Les sanglots longs des violons de l’automne
Blessent mon coeur d’une langueur monotone.

“Os soluços graves dos violinos suaves do outono
Ferem a minh’alma num langor de calma e sono.”

O poema de Verlaine é a mensagem codificada esperada por milhões de pessoas. É o sinal do desembarque das tropas aliadas na Normandia. A operação Overlord, codinome Netuno, está pronta para ser deslanchada.


“Ok, let’s go!”

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“Ok, let’s go!” Com essa frase, o general Eisenhower – mais conhecido como Ike – acaba de tomar sua decisão nesta manhã do dia 5 de junho de 1944. Sem dúvida, a decisão mais difícil da vida dele. O desembarque na Normandia, a Operação Overlord, é marcada para amanhã.

Ele entra para a história.

Pela sua dimensão, o Dia D é a operação militar mais ambiciosa de todos os tempos. Uma operação anfíbia e aerotransportada excepcional nunca antes vista. Pedra angular da campanha para libertar a Europa Ocidental das forças de ocupação nazistas de Adolf Hitler.

Objetivo: o Sena e, mais longe, Paris. Finalmente.

A Batalha da Normandia começa. Um inferno que vai durar 100 dias.


Sainte-Mère-Église

Pouco depois da meia noite do dia 6, os primeiros paraquedistas americanos da 101ª e 82ª divisões Airborne saltam das aeronaves C-47 na praia de Utah e Sainte-Mère-Église. Eles são os primeiros soldados aliados a tocar o solo francês.

Ao longo dessa noite, oitocentos planadores e mais de dois mil aviões vão lançar, atrás das linhas alemãs, mais de 20 mil paraquedistas.

Muitos deles vão morrer afogados nas zonas pantanosas dos arredores de Sainte-Mère-Église. Outros serão metralhados antes mesmo de chegar ao solo da aldeia.

Mas, ao amanhecer, Sainte-Mère-Église estará sob o controle dos soldados americanos. É a primeira cidade francesa a ser liberada por via aérea.


O desembarque

Na manhã do Dia D, às 5h30, aviões aliados e couraçados iniciam um violento bombardeio sobre as fortificações das praias e falésias.

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Uma hora depois, cinco divisões (duas americanas, duas britânicas e uma canadense) desembarcam em cinco praias cujos codinomes se tornaram inesquecíveis: Sword, Juno, Gold, Omaha, Utah

É fácil imaginar o medo e a angústia desses homens, muitos com apenas 20 anos, quando a porta da lancha de desembarque se abre. O avanço pela praia é terrível. São centenas de metros de areia a serem percorridos completamente expostos, sob o fogo intenso das metralhadoras alemãs instaladas em blockhaus aparentemente inexpugnáveis.

Só na praia de Omaha, mais de três mil soldados americanos vão cair nas primeiras horas do desembarque.

A resistência da Wehrmacht é feroz mas, ao cair da noite, todas as praias já tinham sido conquistadas.

À meia-noite, os números são impressionantes:

  • mais de 150 mil homens já conseguiram pôr os pés em solo francês;
  • 20 mil veículos foram desembarcados;
  • 6939 navios atravessaram os 150 quilômetros que separam a Inglaterra da França;
  • 12 mil toneladas de bombas foram lançadas;
  • 11,5 mil aeronaves participaram das operações.

O balanço humano na noite de 6 de junho é de um pouco mais de 10 mil mortos, feridos ou desaparecidos.


O Dia D e o cinema

O cinema apropriou-se naturalmente desse que foi o maior acontecimento da história do século XX. De fato, é difícil imaginar um tema mais épico, uma aventura humana tão grandiosa. Foram realizados dezenas de filmes sobre a data. Tantos, que é sempre um desafio fazer uma lista.

No entanto, podemos destacar três deles. Três filmes, três épocas, três diretores, mas uma mesma história feita de coragem e heroísmo, bem como de sacrifício e sofrimento.

Três filmes para descobrir ou redescobrir.

O mais longo dos dias (The Longest Day), 1962

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Dirigido por Ken Annakin, Andrew Marton, Bernhard Wicki, Gerd Oswald e Darryl F. Zanuck

Essa adaptação do livro epônimo de Cornelius Ryan, publicado em 1959, é sem dúvida o primeiro grande filme dedicado aos acontecimentos desse tão famoso dia 6 de junho de 1944. O filme de Zanuck, que foi referência durante décadas, tem quase 3 horas de duração e retrata cronologicamente os acontecimentos dos desembarques dos aliados na Normandia, precedido dos preparativos finais da noite anterior. Zanuck escolheu o preto e branco para acentuar o realismo e permitir a inserção de imagens reais das notícias da época: “Quero que todo o meu filme seja uma verdadeira reconstrução do que realmente aconteceu”.

O casting internacional juntou os maiores atores da época: Robert Mitchum, John Wayne, Henry Fonda, Sean Connery (que no mesmo ano será o primeiro James Bond), Richard Burton, Arletty, Bourvil, Jean-Louis Barrault, Curd Jürgens, até Clint Eastwood, apesar de o nome dele não aparecer nos créditos finais.

O filme ganhou dois Oscares pela melhor fotografia e pelos melhores efeitos especiais.

Disponível na iTunes Store, Amazon Prime (em inglês) e em DVD.


Agonia e glória (The Big Red One), 1980

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Dirigido por Samuel Fuller

O filme de Samuel Fuller, apresentado em Cannes em 1980, caminha no limite entre o documentário e a ficção. O diretor, que participou pessoalmente como soldado em três desembarques (África, Sicília e Normandia), sabe do que está falando. A guerra não é uma brincadeira. A cor dela é vermelho, a cor do sangue.

Toda a abordagem do filme é resumida na sua frase final: “a única glória na guerra é sobreviver” (surviving is the only glory in war). Longe de qualquer exaltação do heroísmo ou do patriotismo, seguimos quatro jovens soldados: Griff, Vinci, Zab e Johnson, liderados pelo sargento Possum. Um grupo de homens acostumado aos combates e a ver pessoas mortas por todos os lados, tentando sobreviver nas várias batalhas em que participa.

Cineasta vanguardista e rebelde, Samuel Fuller, graças a um excelente elenco, que contava com o magnífico Lee Marvin, realizou o que muitos consideram como o seu maior filme. Uma obra prima única, ao mesmo tempo séria, engraçada e absurda.

Disponível na Netflix e em DVD.


O resgate do soldado Ryan (Saving Private Ryan), 1998

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Dirigido por Steven Spielberg

O filme, inspirado por uma história real, apresenta um grupo de soldados americanos liderado por Tom Hanks que, na confusão do início da Batalha da Normandia, tem como missão encontrar um soldado – o soldado Ryan – cujos irmãos morreram todos em batalha.
De uma intensidade nunca vista até então no cinema, o filme mostra uma visão ultrarrealista, fria e chocante do desembarque do dia 6 de junho nas praias da Normandia. A longa sequência de abertura, de quase trinta minutos, virou antológica. Nunca a guerra tinha sido retratada de forma tão palpável, tão assustadora. A encenação excepcional e a virtuosidade da direção revelam toda a genialidade do diretor. A obra-prima de Steven Spielberg ficará à posteridade por seu profundo humanismo ao expor o sacrifício, o sofrimento e a solidariedade dos homens em combate.

Não é por acaso que cinco Oscares, incluindo o de melhor diretor (pela segunda vez), recompensaram este monumento à sétima arte.

Disponível no Google Play, YouTube e em DVD


Arnaud Vin,
Editor responsável dos selos Vestígio Nemo

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O Dia D foi, sem dúvida alguma, um dos momentos mais marcantes da Segunda Guerra Mundial e de toda a história do século XX, o ápice de seis anos de inteligência e cooperação internacional para combater o nazifascismo que assolava a Europa. Se você se interessa pelo tema e quer saber mais, não deixe de conhecer nossos títulos sobre a Segunda Guerra Mundial

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Crédito das fotos:

© U.S. National Archives
Gen. Dwight D. Eisenhower talks with paratroopers of the 101st Airborne Division in Newbury, England, on June 5, 1944, prior to their departure for their role in the D-day invasion, dropping behind enemy lines.

© U.S. National Archives
Foto tirada a partir de uma lancha de desembarque chegando na praia de Omaha (Omaha Beach) e que ganhou o apelido de “Into the Jaws of Death”.

Tags:  história,  editora vestígio,  segunda guerra mundial,  indicações,  filmes


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