Clássicos da Literatura: O que faz com que um livro seja um clássico?

Publicado na categoria Palavra da Editora em 06/07/2020


Anne de Green Gables, Pollyanna, Clara dos Anjos, Peter Pan: ao mergulhar nas páginas de histórias como essas, é fácil entender por que elas perduram no tempo e vêm fascinando gerações de leitores até hoje. Contudo, ainda que seja fácil identificar um clássico quando se lê um, é uma tarefa difícil defini-lo de maneira mais abrangente.

O termo “clássico” carrega uma multiplicidade de sentidos. Por vezes, é associado à “alta literatura”, usado para se referir ao cânone literário, às obras-primas que se destacam por sua excelência. Em outros contextos, pode significar algo tradicional, habitual, um modelo para um determinado grupo ou comunidade: Frankenstein, por exemplo, é um clássico do terror e da ficção científica.

Sendo assim, o que faz com que um livro seja considerado um clássico?

É a esta difícil questão que vamos nos dedicar neste texto, e, para isso, começaremos voltando alguns séculos no tempo…

De volta ao começo

Ao pé da letra, a palavra “clássico” na literatura remete ao movimento literário que se desenvolveu no Renascimento, durante o século XVI: o Classicismo. Opondo-se ao teocentrismo que imperava na Europa até então, os artistas renascentistas buscaram inspiração nos gregos da Antiguidade Clássica (daí o nome do movimento), tendo o Humanismo como base filosófica e valorizando, entre outras coisas, a racionalidade que pudesse levar a uma representação universal da realidade e a atenção aos aspectos formais do texto.

Essa definição, ainda que historicamente correta, não é o bastante para dar conta dos muitos sentidos da palavra nos dias de hoje, mesmo no campo da literatura. Afinal, Machado de Assis, por exemplo, viveu entre 1839 e 1908, séculos depois do Renascimento, na virada do Romantismo para o Realismo. Ainda assim, quem se atreveria a dizer que suas obras não são clássicos da Literatura Brasilera?

Palavra de especialista

Restringir os clássicos à classificação da escola literária a que pertencem pode oferecer um critério claro a ser seguido, mas deixa de fora muito do que sua leitura nos proporciona. Sonia Junqueira, autora consagrada e editora da coleção Clássicos Autêntica, nos oferece uma definição que concilia os aspectos formais que definem o Classicismo com essa característica intangível que dá aos Clássicos um lugar especial na literatura:

A literatura é a arte de contar histórias. Histórias que emocionem, que dêem prazer, que ensinem as pessoas a se conhecer e a conhecer o outro, a viver, a voar. ‘‘… até os livros sérios, até os livros dos adultos, até os livros difíceis não passam de veleiros disfarçados, e possuem o mesmo encantamento do barco movido a pó dourado [de Peter Pan]” (Roberto Cotroneo, escritor e editor italiano).

Pra mim, os clássicos são, por excelência, “veleiros disfarçados” que me levam para outras épocas, outros mundos, outros universos, outros contextos, que me mostram a beleza que existe no passado, que não me deixam esquecer os valores humanistas essenciais em vias de desaparecimento no nosso louco mundo e que sempre, a cada vez que os (re)leio, têm algo a me dizer, a me ensinar, a me fazer sentir.

Um clássico, pra mim, é sempre um livro que me estende a mão e me puxa para uma experiência indescritível, porque única.

Assim, um clássico, qualquer que seja sua época, carrega consigo uma magia que lhe é particular; reflete os valores de seu tempo e, simultaneamente, ultrapassa a época em que foi escrito, tornando-se sempre atual em sua universalidade.

Mais do que pertencer a uma escola literária ou a outra, um clássico é definido pelos valores que é capaz de transmitir e por sua capacidade, inesgotável e sempre atual, de nos transformar – e a si mesmo – a cada leitura.

Quais são os grandes Clássicos da literatura para você? Quais valores eles ajudam a manter vivos? Deixe seu comentário ou nos siga em nossas redes sociais para continuar essa conversa conosco!

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