Nasci no Rio de Janeiro, em 1955, cidade que guarda para mim, até hoje, a memória de meu pai, que era paulista, mas me ensinou a amar o sal e o sol sobre o corpo, e também as sombras. Foi por causa de meu pai, também, que vim para Belo Horizonte, ainda adolescente, e fiz, nesta cidade, muitos laços fortes: os amigos, o trabalho, e meus dois filhos, mineiros.
Dizem que me amineirei. E eu sorrio, quando escuto isso, porque meu coração é carioca, mas minha alma, creio, sempre foi mineira. Sei que, sobretudo, sou brasileira, brasileiríssima, embora às vezes me sinta um tanto estrangeira. Por isso, talvez, tenha ensaiado morar, por duas vezes, nos Estados Unidos, e uma vez em Portugal, países onde fiz o mestrado e dois estágios de pós-doutorado.
Desde menina soube que era escritora, mas nunca me imaginei escrevendo para crianças. Hoje, tenho certeza da superioridade da literatura infanto-juvenil, que sempre me acontece por puro dom. Acho que foi também por puro dom que este livro me aconteceu. Assim como foi por uma espécie de graça que um dia encontrei, de perto, Dona Canô e seus filhos.
Agradeço à vida, e à psicanálise, ter aprendido tão cedo que mãe é para sempre. Mais tarde, constatei a força dessa aprendizagem, no encontro com Dona Canô e suas memórias.
Por reconhecer a força das aprendizagens, terminei por admitir, depois de algum tempo, que não sou apenas escritora, mas também professora. Hoje sou Professora Titular em Estudos Literários na Faculdade de Letras da UFMG e sorrio, com ternura, quando uma amiga querida, apenas uma, me chama, publicamente, de “Professora Lucia”.
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