Good Morning, Mrs Woolf...

Tomaz Tadeu - Publicado na categoria Palavra da Editora em 25/01/2020


Virginia Woolf [25 de janeiro de 1882 – 28 de março de 1941]

Há 138 anos, nesta data (25 de janeiro), nascia Virginia Woolf, de solteira, Adeline Virginia Stephen. Como assídua diarista que era, ela registrou muitos de seus aniversários por escrito, concentrando-se nos presentes que ganhava e no processo de seu envelhecimento. A transcrição desses registros é a homenagem que nós, da Autêntica Editora, a casa que a tem acolhido no Brasil nos últimos dez anos com caprichadas edições de sua obra, lhe prestamos hoje. De quebra, acrescentamos a tradução de trechos das cartas e ensaios em que ela se refere ao seu aniversário ou a aniversários em geral. [Tomaz Tadeu].

I. Diário

25 de janeiro de 1897 [15 anos]

Meu aniversário. Nenhum presente no café da manhã e nenhum presente até a chegada do sr. Gibbs, carregando um pacote grande nos braços, que se revelou ser um deslumbrante volume de Queen Elizabeth, do Dr. Creighton. […] Stella e eu fomos até a Story comprar uma cadeira de braço, que é o presente dela para mim. Escolhemos uma cadeira muito bonita […]. St. Gerald me deu 1 libra, e Adrian um suporte para minha caneta-tinteiro. Papai vai me dar a Vida de Scott, de [J. G.] Lockhart – a prima Mia me deu uma agenda e outra caderneta. Thoby me escreveu para dizer que encomendou filmes [fotográficos] para mim.

26 de janeiro de 1897 [15 anos]

Terminei meu bolo de aniversário na hora do chá, que teve, assim, uma vida muito curta, pobrezinho. O presente do pai para mim chegou – A vida de [Walter] Scott – num pacote grande em papel pardo – eu esperava um enorme livro impresso em letras minúsculas, mas, em vez disso, vi 10 belas e pequenas encadernações em couro azul e marrom com inscrições douradas, letras grandes, e todo luxuoso. O presente mais bonito que já ganhei.

25 de janeiro de 1905 [23 anos]

Outra manhã preguiçosa […]. Meu aniversário, a propósito – no dia 25, mas, como sempre, foi, de alguma forma, um tanto esquecido, o que é de se esperar na minha idade –! Violet [Dickinson] veio para o almoço e, sim, trouxe um presente – um imenso tinteiro de porcelana que comporta quase um jarro inteiro de tinta, e é grande demais para ser utilizável. Tenho que praticar uma letra grossa e ter uma pena de ganso – saímos no carro a motor de George após o almoço […] – depois, de volta à casa, reli a resenha que fiz de um livro, e jantar às 7 e 30, uma vez que fomos com Gerald ver Peter Pan, a peça de Barrie – imaginativa e espirituosa como tudo dele, mas sentimental demais. Mesmo assim foi uma grande diversão.

25 de janeiro de 1915 [33 anos]

Meu aniversário – e deixem-me fazer as contas de todas as coisas que ganhei. L. [Leonard] jurou que não ia me dar nada, e, como boa esposa, acreditei nele. Mas ele se meteu na minha cama com um pequeno pacote, que continha uma linda bolsa verde. E subiu com o café da manhã, trazendo um jornal que anunciava uma vitória naval (tínhamos afundado um navio de guerra alemão) e um pacote quadrado marrom, contendo The Abbot [de Walter Scott] – uma primeira e primorosa edição. Tive, assim, uma manhã alegre e agradável que, na verdade, foi superada apenas pela tarde. Fui levada à cidade, livre de despesas, e fui premiada com alguns mimos, primeiro no Picture Palace [cinema], e depois no Buszard’s [casa de chá]. Acho que fazia 10 anos que não recebia mimos assim no aniversário; e o aniversário também parecia um mimo – um lindo dia de geada, tudo vivo e alegre, como deveria ser, mas nunca é. O Picture Palace foi um tanto decepcionante […]. Mas, para compensar, pegamos um trem direto, bem a tempo, e tenho estado muito contente lendo o livro de papai sobre [Alexander] Pope, que é muito espirituoso e inteligente – sem nenhuma frase monótona. Na verdade, não sei quando me diverti tanto num aniversário – de qualquer maneira, não desde que eu era criança. […] Também ganhei um pacote de doces para trazer para casa.

24 de janeiro de 1918 [35 anos]

O último dia com 35 anos. Tremo para escrever os anos que vêm depois dele: todos tingidos com a sombra dos 40.

25 de janeiro 1918 [36 anos]

Meu aniversário. L. [Leonard] botou uma linda faca com cabo de chifre de boi na minha mão esta manhã. Nelly [a criada] fez para mim um par de meias vermelhas que se prende na altura dos tornozelos e combina, assim, perfeitamente, com meu estado de espírito nesta manhã.

26 de janeiro de 1920 [38 anos]

O dia após o meu aniversário; tenho, assim, 38 anos. Bem, não tenho nenhuma dúvida de que sou muito mais feliz do que era aos 28; e mais feliz hoje do que era ontem, tendo chegado nesta manhã a alguma ideia de uma nova forma para um novo romance.

25 de janeiro de 1921 [39 anos]

Esperei 25 dias antes de começar o novo ano; e no dia 25 é, infelizmente, não o meu 25°, mas o meu 39° aniversário […].

26 de janeiro de 1930 [48 anos]

Tenho 48: estivemos em Rodmell [a casa de campo dos Woolfs] – de novo, um dia úmido, ventoso; mas no dia de meu aniversário caminhamos pelas Downs, como as asas dobradas de pássaros cinza […].

26 de janeiro de 1931 [49 anos]

Que os céus sejam louvados: posso dizer honestamente no primeiro dia dos meus 49 anos que larguei a obsessão de Opening the Door [um dos possíveis títulos do futuro Três guinéus], e voltei para As ondas […].

24 de março de 1941 [última entrada do diário; Virginia fizera 59 anos em 25 de janeiro; morreria quatro dias depois]

[…] L. [Leonard] está cuidando dos rododendros…

II. Cartas

Carta a Margaret e Emma Vaughan [25 de janeiro de 1903]

[…] Vocês são maravilhosas! […] Nada me impressiona com tanta admiração, adoração e surpresa quanto o poder de vocês de postar cartas! Quando as posto, elas nunca chegam no dia em que deveriam: nenhuma carta minha desejando feliz aniversário chega na semana apropriada – e a de vocês sempre chega – gostaria que me dissessem como vocês fazem – pois é um dos presentes que me dá mais prazer – minha bandeja estaria vazia não fora pela genialidade de vocês – vocês acabaram de me tirar do desespero e fizeram me sentir jovem novamente, quando um aniversário era um aniversário.

Carta a Jacques Raverat [24 de janeiro 1925]

Bem, tudo isso é tudo muito desconexo; apenas uma tagarelice e imagino que você não faça a mínima ideia de como as flores vindas de você e, além disso, na véspera do meu aniversário, me fizeram feliz. Ali estão elas, junto à minha parede pintada, grandes buquês de amarelo e vermelho e rosa. […]

Carta a Vanessa Bell [4 de fevereiro de 1940]

Estive olhando o meu presente de aniversário à luz do dia. É um quadro adorável – que poeta você é em cor – um dia desses vou escrever sobre você.

III. Ensaios

Do ensaio “Rambling Round Evelyn” [1920; sobre O diário de John Evelyn, escritor inglês do século dezoito]

Se por acaso você quiser ter certeza de que seu aniversário será celebrado daqui a trezentos anos, o melhor caminho é, sem dúvida, manter um diário. Só que, em primeiro lugar, esteja certo de que você tenha a coragem de trancar seu gênio num volume privado e de estar disposto a exultar com uma fama que será sua apenas no túmulo. Pois o bom diarista escreve ou para si mesmo ou para uma posteridade tão distante que ele pode ouvir seguramente cada segredo e pesar com justiça cada motivo. Para um público assim não há nenhuma necessidade de afetação nem de reserva. Sinceridade é o que eles pedem, detalhe, e volume; a habilidade com a pena é conveniente; mas o brilho não é necessário; a genialidade é, inclusive, um obstáculo; e, se você conhecer seu ofício e praticá-lo corajosamente, a posteridade lhe permitirá se misturar com grandes homens, relatar casos famosos ou se deitar com as melhores damas do país.

Do ensaio “The Novels of George Meredith” ( Times Literary Supplement, 9 de fevereiro de 1928)

Abrir os livros de novo, tentar lê-los como que pela primeira vez, tentar livrá-los do entulho da reputação e do acaso – este é, talvez, o presente mais aceitável que podemos dar a uma escritora em seu centésimo aniversário.

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