Bento Prado Júnior(1937-2007) foi um dos mais importantes nomes da filosofia feita no Brasil. Autor de poucos livros mas de vasta produção ensaística, ele desenvolveu uma ampla reflexão sobre a figura contemporânea do sujeito, e sua originalidade sempre foi reconhecida por seus pares. Trafegando em um horizonte conceitual no qual a filosofia era capaz de se abrir a áreas como a literatura, a psicanálise e a psicologia, assim como de articular tradições aparentemente díspares como a filosofia analítica e a dita “filosofia continental”, fato raro na filosofia feita em nossas universidades, Bento Prado foi a influência maior de gerações de pesquisadores e filósofos brasileiros que procuravam modelos de reflexão capazes de aliar rigor e originalidade, abertura à filosofia contemporânea e cuidado com a história da filosofia.
Em seus últimos anos, o filósofo se dedicava à elaboração de uma trilogia da qual este livro seria o primeiro volume. Ela versaria sobre as relações entre teoria do sujeito (Ipseitas), teoria da ação (Actio) e teoria estética (Contemplatio). Infelizmente, apenas o primeiro volume foi deixado em estado de manuscrito, não havendo indicações sobre os demais. Tal trilogia seria o resultado final de uma longa trajetória de reflexão filosófica que se iniciara com sua tese sobre Bergson, Presença e campo transcendental, realizada ainda nos anos 1960.
O leitor verá neste livro incompleto, editado e organizado por Vladimir Safatle, o movimento vivo de uma experiência de pensamento em plena operação. Toda sua escrita é marcada pela emergência de articulações surpreendentes e problemas transversais que indicam uma capacidade incomum de reconstruir questões e tensionar nossos conceitos hegemônicos de razão. Prova maior da maturidade da filosofia feita entre nós.
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